Meu peso





domingo, 14 de agosto de 2011

Dia dos pais

Quando nasci, eu tinha um pai, um cara legal, bonito, mas nunca soube muito mais dele, pois a vida fez com que ele e minha mãe se afastassem.. daí pouco tempo depois, minha mãe casou outra vez... ah, se antes o meu pai era legal para mim, esse "novo" pai se tornou meu mundo... ele me deu todo o amor, carinho e atenção que precisava. Foi uma coisa de alma, sei que ele fez por mim mais do que para as outras filhas legítimas que teve - ele foi o pai que me criou, que mostrou o certo e o errado, quem me deu meu humor, porque humor se desenvolve com humor e ele foi a pessoa mais engraçada que já conheci na vida - nos completamos numa fase perfeita em nossas vidas, ele foi o pai que precisei para crescer e eu fui a filha que ele precisou quando teve maturidade para se tornar pai. Meu pai de sangue continuou sendo meu pai, mas por morar longe, era mais rara a convivência, mesmo assim, sempre mantive contato, o visitava, ligava e até hoje, mesmo depois de 15 anos de sua morte, mantenho contato com minha madrasta, como se devesse isso a ele, como uma forma de mostrar a ele que ainda somos ligadas porque ele amava a nós duas, eu sua filha e ela a sua esposa. Há 14 anos, quase exatamente um ano depois de ter perdido o meu primeiro pai, o de sangue, perdi meu segundo pai, o de alma - foi como se me chão fosse tirado, naquele momento, perdi metade da minha alegria, metade do meu humor - perdi meu melhor amigo, foi muito duro!
Hoje, no dia dos pais, queria ter os dois por perto, o que me gerou e o que me criou - não é possível... mas mesmo assim, nos últimos anos tenho tido ótimos dia dos pais... meu marido e nossos filhos passamos o dia juntos, com muito amor e carinho. É um dia importante, tanto para ele, quanto para as crianças, porque sei, que um dia, nós não estaremos mais aqui e nossos filhos passarão o dia dos pais lembrando desses momentos, como eu lembro dos meus, às vezes com um pai, outras com o outro e muitas até mesmo com os dois - sim, porque a separação dos meus pais foi deles e não minha, e meu pai de sangue e minha madrasta, quando vinham a Canoas, nos visitavam e mantinham um ótimo relacionamento com minha mãe e meu padrasto - coisa de novela!
Estou contando tudo isso porque minha história é diferente ou igual a de muita gente, não importa... é minha história, serve para alertar que os pais morrem, mas antes disso, enquanto vivos, eles sentem, sentem saudade, sentem dor, ficam doentes, felizes, saudáveis, tudo... mas é enquanto vivos é que eles podem amar e serem amados... hoje, sem meus dois pais, sinto um aperto, uma espécie de arrependimento, uma dor por não ter ido mais vezes a Santa Catarina para ver meu pai de sangue, uma dor por não ter dito mais vezes o quanto eu amava os dois - sim os dois, porque nunca é suficiente dizer EU TE AMO! Sei que o pai que me criou ouviu mais vezes que o outro, porque convivi com ele mais tempo, mas eu poderia ter dito mais a ele e ao outro... eu poderia ter segurado as mãoa deles mais vezes, eu poderia ter olhado nos olhos deles mais vezes, eu poderia tanta coisa, agora é tarde! Pelo menos, dentro de mim, há uma certeza, eu fiz tudo isso muitas vezes e hoje a dor é uma dor de saudade, mas de alegria por ter tido momentos especiais com ambos.
Minha tristeza é por outros... outros pais, pais que se dedicaram, que criaram, que lutaram para que um filho não fosse abortado, pais que enfrentaram a família para assumir uma paternidade adolescente e que foram esquecidos por seus filhos. Pais que enfrentam dificuldades na vida, que sofrem pelo desemprego, pelo descaso e pelo abandono dos filhos, pais que não recebem uma ligação no seu dia ou quando recebem um telefonema em seu aniversário, já são 11 horas da noite...
Desculpem o desabafo, mas era preciso dizer algo para quem não sabe o que ter um pai, mas sei que depois que ele se for, não esses filhos não terão o meu sentimento, o sentimento de que o que fiz não foi o suficiente, pois pelo menos eu fiz enquanto eles estavam vivos e eles não!

Fiquem bem.

Um comentário:

  1. "...ele foi o pai que precisei para crescer e eu fui a filha que ele precisou quando teve maturidade para se tornar pai." Jaque, essa foi a frase mais sábia desse texto tão carregado de amor e saudade! Quero te afirmar uma coisa, guriazinha: não importa quantas vezes exatamente tu disseste a ele o tanto que o amavas; ele sabia que era muito, que era imenso o teu amor, porque os teus gestos, teus afagos, tuas atitudes no dia-a-dia diziam isso a ele! Tenho certeza de que a vida dele ficou bem mais rica quando vocês se identificaram como pai e filha! E lendo esse teu depoimento emocionado, posso te dizer: Guriaaaaaa!!!! Ter dois pais bacanas, que deixaram saudade boa, não é pra qualquer um, hem! Beijão,irmã!

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